Cultura médica

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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A Cultura médica está sendo progressivamente pulverizada. O saber em medicina assim tratado está fazendo desaparecer o médico com domínio abrangente de conhecimentos, como ocorria no passado. A Especialização exagerada pela subdivisão formando novas sub ou ultra-especialidades tem sido o mecanismo pelo qual o médico qualificado encontra sobrevivência. Por outro lado, aqueles que não conseguem qualificar-se devidamente têm, também, que subsistir. Atualmente, como vão as coisas, o médico que não consegue especializar-se tende a caminhar para a marginalidade da profissão. Ele vai deparar com dificuldades para se impor como profissional e acaba necessitando de vários empregos para garantir sua subsistência. Costumam apresentar-se como clínicos mais por exclusão do que por opção e muito raramente por formação. Como não detêm um Título de Especialista ele próprio se intitula clínico geral. Esse grupo de médicos, na vida prática, raramente apresenta em seu currículo, um documento que revele um estágio programado. São, no máximo, detentores do conhecimento adquirido na escola e da experiência acumulada pela triste realidade do Acerto e erro com graves conseqüências para o doente. A primeira Dificuldade em sua formação decorre da crescente quantidade de novas especialidades que estão aparecendo, cujo ensino é feito pela somação de fragmentos. Raramente há preocupação da própria escola em mostrar ao jovem as grandes linhas de interligação, ou onde esteja o denominador comum entre as especialidades. A segunda é comprovada na prática onde se registra a rotatividade nos empregos dos jovens recém-formados que não conseguem entrar num Programa de Residência Médica para consolidar seus conhecimentos básicos numa especialidade. Os números acumulados destes médicos, tornam a situação mais grave a cada ano que passa. O problema é sério e exige reformulação radical da situação. Há grande Dificuldade em atuar nas Escolas, interferindo em seu Corpo docente. A autonomia didática nem sempre é entendida corretamente. Certos direitos são lembrados mas as obrigações costumam ser esquecidas. Há, muitas vezes, maior preocupação em ensinar o que o aluno deseja em detrimento do que ele precisa saber. Diante de todos esses fatos está havendo uma conscientização generalizada de que se deve fazer algo para reverter a situação. Entretanto, acho descabida a idéia de se adotar a expressão “generalista” ou mesmo “internista” em Antagonismo ao especialista. O que acredito ser próprio é valorizar o médico qualificando-o como clínico geral. Deste deve ser exigido boa formação com razoável nível de conhecimentos amplos de medicina bem como, com Capacidade de realizar uma série de procedimentos em várias áreas. É de primordial importância que os Programas de Residência Médica os treinem não os levando diretamente para a especialidade. É fundamental estabelecer a quantidade do saber do médico e, durante o Treinamento no Programa de Residência, ser constantemente avaliado considerando: 1- o que ele precisa saber e 2- o que ele pode ignorar, sempre referente ao nível em que se encontra. É imprescindível que tenha um Núcleo de conhecimentos básicos de anatomia, fisiologia, patologia, fisiopatologia e um domínio amplo de várias áreas fundamentais de clínica médica, cirúrgica, pediátrica e obstétrica mas, é muito importante que sua Cultura médica se expanda pelas grandes linhas de pensamento de todas as especialidades. No perfil do clínico geral deve aparecer itens como: 1- apresentação pessoal e Higiene; 2- disciplina, pontualidade, assiduidade; 3- Consciência Ética; 4- absoluto respeito ao sigilo; 5- preocupação constante com o aprimoramento intelectual; 6- noção de administração do tempo; 7- habilidade no Trato humano; 8- domínio de outro idioma; 9- conhecimento em metodologia científica; e 10- Capacidade de reflexão. O curso médico dá ao Indivíduo poderes legais para exercer a profissão em sua plenitude em qualquer lugar do país. Entretanto, o ensino ministrado em cada uma das Escolas Médicas vai depender da Qualificação de seus docentes, das oportunidades hospitalares onde aparecem as doenças regionais, e também, do nível de pesquisa científica de seus professores, gerando novos conhecimentos e os mantendo atualizados. A formação e o Treinamento dos Médicos é diferente de uma região para outra do país e mesmo de uma escola para outra. Cada profissional deve ter a Consciência de suas limitações e empenhar-se para superá-las. Todos e, no caso, o clínico geral, não devem esquecer que a escola abre a porta que os leva à estrada que vão percorrer onde o saber se aprende com os mestres a Sabedoria só com o correr da vida (Cora Coralina).