Ponte de safena

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Substituto arterial da safena do próprio paciente, utilizado para contornar uma Estenose ou Obstrução arterial segmentar.
hoje conhecida de muitos, porém, poucos sabem que seu embasamento data dos primórdios deste século, desde os trabalhos de Alexis Carrel (Prêmio Nobel de Medicina em 1912). Ele fez, experimentalmente em animais, transplantes de vísceras e de veias. Assim, pode-se dizer que essas idéias começaram, naquela ocasião, a ser ordenadas de maneira científica. Daí por diante, a evolução do conhecimento do que resultaria no que é hoje a Cirurgia Vascular pode ser marcada por acontecimentos esparsos, porém, todos significando pilares, que o tempo não pode destruir, erigidos por personalidades de extraordinária intuição e de incomum valor científico. Eles contribuíram para construir uma estrutura sólida garantindo enorme riqueza nesse campo do saber, cujo objetivo básico pode ser resumido, em poucas palavras, dizendo-se que é restabelecer a irrigação dos tecidos humanos. Todos à sua maneira, perseguiram esse encalço.
Os pioneiros que prosseguiram na caminhada iniciada por Carrel foram René Leriche com a Simpatectomia; Egas Moniz e Reynaldo Cid dos Santos com a Arteriografia; Crafford com a Heparina; Gross com as artérias conservadas; Voorheer com os substitutos arteriais.
No primeiro quartel deste século, René Leriche difunde a Simpatectomia chamando-a de Cirurgia fisiológica, pelo Fato de a operação ser feita num local e seu resultado ser observado à distância. Ela consiste na retirada de alguns gânglios do Sistema nervoso autônomo, por onde passam os filetes nervosos que vão para determinadas artérias. Estas, uma vez desligadas do comando do Sistema nervoso simpático, entram imediatamente em relaxamento, perdem o Controle de seu tono muscular e, assim, dilatam-se, aumentando o afluxo de Sangue à região sofredora de Isquemia. Além desse benefício, está provado que tal operação desencadeia também, de maneira progressiva, uma rica Circulação colateral constituída de vasos neoformados. Na prática diária da clínica, os doentes necessitados desse Tratamento padecem de Obstrução devido à Arteriosclerose. Eles se queixam de pés frios, pálidos e de dores que os obrigam, em suas caminhadas, a interromper a Marcha (claudicação intermitente). Após a operação sentem suas extremidades mais quentes e, às vezes, até notam que aumenta a autonomia da caminhada. Esta cirurgia, quando bem indicada, traz grandes benefícios a muitos doentes. Ela também foi utilizada na esperança de melhorar a Circulação do coração, mas seus resultados não foram animadores.
Egas Moniz, que conseguiu a Arteriografia cerebral em 1927 (Prêmio Nobel de Medicina em 1949), e Reynaldo Cid dos Santos introduziram a Arteriografia na Propedêutica. Este foi o terceiro grande pilar da Cirurgia Vascular. Muitas eram as limitações no tratamento, mas o Diagnóstico tornava-se cada vez mais preciso e o prognóstico feito com mais segurança.
Em 1937, Crafoord introduz a heparina, que havia sido descoberta pelo estudante de medicina McLean, em 1916, na prática clínica, como Anticoagulante. Esta contribuição foi das maiores no Tratamento do Paciente com Obstrução dos vasos e, até hoje, tem papel relevante na clínica e também na cirurgia, até mesmo durante o ato operatório.
Na década seguinte, Gross (1945) utiliza as artérias de cadáveres humanos (homo-enxertos), para contornar as obstruções arteriais. Na mesma linha de pensamento, Arthur Voorheer contribui, em 1952, com os substitutos arteriais sintéticos.
Assim, estavam construídos os alicerces da Cirurgia Vascular. Os horizontes ampliavam-se. As esperanças às vítimas da Arteriosclerose aumentavam cada vez mais.
Quando se pretende entender a evolução e uma especialidade cirúrgica, não se pode deixar de ponderar os subsídios propiciados pela experiência obtida nas guerras. Assim, as da Coréia e do Vietnã trouxeram contribuição valiosa na consolidação dos conceitos, na padronização de técnicas e no estabelecimento de condutas para tratar as artérias. Por outro lado, também os progressos da tecnologia, decorrentes das pesquisas elaboradas com a preocupação de levar o homem à lua, enriquecem os recursos propedêuticos, trazendo assim grandes facilidades diagnósticas. Apareceram numerosas variedades de exames caracterizados pelo Fato de serem inócuos, não usarem agulhas e não colocarem em risco, em momento algum, a integridade do Paciente. Por este motivo, foram denominados não invasivos. Todos eles estimam o fluxo de Sangue que chega ao Órgão ou ao Tecido e, assim, avaliam indiretamente as condições de permeabilidade dos vasos. Paralelamente a esses fatos, a tecnologia aumentou a gama de recursos pondo à disposição numerosas variedades de fios e de substitutos arteriais, bem como possibilitando a construção de instrumental cirúrgico altamente requintado.
Atualmente, o Desvio do fluxo de Sangue é o grande recurso para contornar a Obstrução das artérias, sejam as que irrigam os membros, o Coração ou qualquer Órgão da economia humana. Os substitutos arteriais sintéticos são ótimos, mas o melhor, por não apresentar Rejeição e pelo Fato de o Paciente trazê-lo consigo próprio, portanto sem grandes custos, ainda é a safena.
A Análise panorâmica da atuação da Cirurgia Vascular, tendo em vista principalmente os problemas arteriais mais freqüentemente na clínica, mostra que talvez sejam pertinentes duas críticas: 1- ela não trata, na essência, da Doença arterial (arteriosclerose); cuida, sim, de suas Complicações como estenose, Obstrução e rotura; 2- seu método terapêutico procura restaurar o fluxo de sangue, geralmente deixando a lesão, apenas contornando-a. O que parece pouco, entretanto, é grandioso, pois salva órgãos, membros e mesmo vidas, recupera indivíduos e os devolve ao convívio de seus entes queridos e à participação ativa na sociedade.
O progresso, todavia, manteve, até hoje, a genial idéia que teve Carrel há oitenta anos ao utilizar a Veia como Ponte. Ver: Safena, Substituto arterial