Peste

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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(ref. Guia de Vigilância Epidemiológica) A Peste, apesar de ser uma Enzootia de roedores silvestres-campestres, que só esporadicamente atinge ratos comensais e o homem, tem grande importância epidemiológica pelo seu potencial epidêmico e até mesmo pan-epidêmico, sendo por isso uma Doença sujeita ao Regulamento Sanitário Internacional. A recente Epidemia de Peste Pneumônica, que ocorreu na Índia com altas taxas de letalidade, demonstra claramente a necessidade de se manter ou, até mesmo, reforçar o Controle dos focos naturais e de se instituir medidas que impeçam sua introdução pelos portos e aeroportos de todos os países do mundo, o que justifica a manutenção sistemática de uma vigilância internacional. É uma Doença de cadeia epidemiológica complexa, pois envolve roedores, carnívoros domésticos (cães e gatos) e silvestres (pequenos marsupiais), pulgas e o homem. A sua Persistência em focos naturais, no Brasil e em outros países do mundo, é uma importante característica ecológica-epidemiológica da doença, que torna difícil sua Erradicação e impõe a manutenção da sua vigilância e controle, mesmo com baixas incidências.
Agente Etiológico: é a Yersinia pestis, cocobacilo gram-negativo, com coloração mais acentuada nos pólos (bipolar).
Reservatórios: roedores silvestres-campestres (principalmente cavídeos e cricetídeos, nos focos do Brasil), roedores domésticos (Rattus rattus, Mus musculus); e os logomorfos (coelhos e lebres).
Vetores: os principais transmissores do Bacilo da Peste são as pulgas infectadas: Xenopsyla cheops, Ctenocephalides canis (parasito do cão), Polygenis bolhsi jordani e Polygenis tripus (do rato silvestre), Leptopsylla segnis (parasito do Mus musculus), dentre outras.
Modo de Transmissão: o principal modo de Transmissão da Yersinia pestis ao homem é a picada de pulgas infectadas. A Peste dos focos naturais é transmitida aos seres humanos quando esses se introduzem no Ciclo zoonótico, ou devido à Interação de roedores domésticos e silvestres, alimentando o Ciclo doméstico da Peste. Nesse último caso, a intensa Infestação por pulgas pode ocasionar Transmissão persistente e manutenção do Ciclo de Transmissão. A Peste de reservatórios naturais para o homem pode ser resumido da seguinte Forma: roedor silvestre -> homem -> pulga doméstica -> homem. As gotículas transportadas pelo ar e os Fômites de pacientes com Peste pneumônica são a Forma de Transmissão mais freqüente de Pessoa a Pessoa. Tecidos de animais infectados, fezes de pulgas, culturas de laboratório também são fontes de Contaminação para quem os manipula sem obedecer as Regras de biossegurança.
Período de Incubação: de 2 a 6 dias. Pode ser mais longo em indivíduos vacinados, ou de um dia para a Peste Pneumônica primária.
Período de Transmissibilidade: as pulgas permanecem infectadas durante vários dias e até meses. A Peste Bubônica não é transmitida de Pessoa a pessoa, exceto se houver Contato com o pus de bulbão supurante. A Peste Pneumônica é altamente transmissível de Pessoa a Pessoa e seu Período de transmissibilidade começa com o início da expectoração, permanecendo enquanto houver bacilos no Trato respiratório. Este Período depende também do Tratamento da Doença.
Suscetibilidade e Imunidade: a suscetibilidade é geral. A Infecção confere Imunidade temporária relativa.
Distribuição, Mortalidade, Morbidade e Letalidade: embora tenha sido controlada na maior Parte do mundo, a Peste continua sendo uma Ameaça não só devido à manutenção de focos naturais, como também pela possibilidade de Epidemia de Peste Pneumônica. Ela vem ocorrendo em vários países do continente africano (Quênia, Madagascar, Zimbawe, Líbia, Tanzânia, Zaire), é endêmica na Birmânia e o Vietnã do Sul registrou epidemias nas décadas de 60 e 70. Nas Américas, existem focos no Brasil, região dos Andes e EUA. A Peste persiste em diversos focos naturais do Brasil, abrangendo algumas áreas dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o que demonstra a atualidade do problema e reforça a necessidade de que os mantenha sob vigilância e Controle adequados. De 1980 a 1993, foram notificados 736 casos humanos no país. O maior número de casos foi registrado em 1982, com 151, e o de menor Incidência foi de 1991, com 10 casos. Estes registros foram procedentes dos focos do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. A letalidade da Peste bubônica, quando não tratada, pode chegar a 50%, e a da pneumônica e septicêmica, próximas de 100%.
Aspectos Clínicos: A Peste se apresenta sob três formas clínicas: bubônica, septicêmica e pneumônica.
Peste Bubônica ou Ganglionar: as manifestações clínicas podem variar desde formas ambulatoriais abortivas, com manifestações leves e discretas, Adenopatia apresentando ou não supuração, até formas graves e letais. Quando grave, o início geralmente é abrupto, com Febre alta, calafrios, Cefaléia intensa, dores generalizadas, anorexia, náuseas, vômitos, confusão mental, Congestão das conjuntivas, Pulso rápido e irregular, taquicardia, Hipotensão arterial, prostração e mal-estar geral. No segundo ou terceiro dia de doença, aparecem as manifestações de Inflamação aguda e dolorosa dos gânglios Linfáticos da região, ponto de entrada da Yersinia pestis. Este é o chamado Bubão Pestoso, formado pela conglomeração de vários gânglios inflamados. O tamanho deste bulbão varia desde uma noz ao de um ovo de galinha. A Pele do bubão é brilhante, distendida e de coloração vermelho escura, é extremamente doloroso e freqüentemente, se fistuliza com Drenagem de material purulento. Podem ocorrer manifestações hemorrágicas e necróticas devido à ação da Endotoxina bacteriana sobre os vasos. A Peste bubônica pode se complicar com Peste pulmonar secundária, resultando em agravamento rápido do quadro do Paciente. A primeira manifestação dessa complicação é o aparecimento de intensa dor toráxica e tosse, expectoração rósea ou fracamente sanguinolenta.
Peste Septicêmica Primária: é muito rara, ocorrendo quando o Paciente tem baixa Resistência. É caracterizada pela presença permanente do Bacilo no sangue, desde o início da Doença. O início é fulminante, com Febre elevada, Hipotensão arterial, grande prostração, dispnéia, Fácies de estupor, Dificuldade de falar, hemorragias cutâneas, às vezes serosas e mucosas e até nos Órgãos internos. Quando não tratada precocemente sobrevêm o Coma e a Morte no fim de dois ou três dias. De modo geral, a Peste Septicêmica aparece na fase terminal da Peste Bubônica não tratada.
Peste Pneumônica: pode ser primária ou secundária à Peste Bubônica ou septicêmica por disseminação hematogênica. É a Forma mais grave e mais perigosa da doença, pelo seu quadro clínico e pela alta contagiosidade, podendo provocar epidemias explosivas. O Período de Incubação é mais curto (1 a 6 dias, em geral 2 a 3). Inicia-se com quadro infeccioso grave, de evolução rápida (febre muito alta, calafrios, arritmia, hipotensão, náuseas, vômitos, astenia, obnubilação). A princípio, os sinais e sintomas pulmonares são discretos e ausentes. Depois surge dor no tórax, respiração curta e rápida, cianose, expectoração sanguinolenta ou rósea, fluida, muito rica em germes. Surgem fenômenos de toxemia, delírio, Coma e Morte se não houver instituição do Tratamento precocemente.
Diagnóstico Diferencial: é difícil no início de uma Epidemia ou quando é ignorada a existência da Doença em uma localidade, já que suas primeiras manifestações são semelhantes a muitas infecções bacterianas. Quando há História epidemiológica compatível a suspeita diagnóstica, fica fácil. O Diagnóstico diferencial se faz com: adenites regionais supurativas, linfogranuloma venéreo, septicemias, pneumonias, etc. Em alguns focos brasileiros, a Peste bubônica pode, inclusive, ser confundida com a Leishmaniose Tegumentar Americana, na sua Forma bubônica.
Notificação compulsória (Fundação Nacional de Saúde).
(ref. CID10) Peste, (A20)
Peste abortiva, (A20.8)
Peste assintomática, (A20.8)
Peste bubônica, (A20.0)
Peste celulocutânea, (A20.1)
Peste, Forma não especificada, (A20.9)
Peste meníngea, (A20.3)
Peste minor, (A20.8)
Peste pneumônica, (A20.2)
Peste septicêmica, (A20.7).