Homeostasia
Sin. homeostase.
Consiste no conjunto de processos que mantêm a estabilidade intrínseca do organismo animal, por Intermédio de numerosas funções que a asseguram continuamente: a Circulação do sangue, a ventilação pulmonar, produção de hormônios, regulação do pH e da osmolaridade do meio interno, da Temperatura corpórea, ajustes metabólicos e neutralização de substâncias e células estranhas ao organismo. O conceito de Homeostase deriva da descoberta, feita em meados do século XIX pelo grande Fisiologista francês Claude Bernard a partir de experimentos memoráveis, de que a composição do meio Interno circulante entre as células do organismo animal é normalmente mantida estável dentro de limites relativamente estreitos. Essa estabilidade parece guardar uma composição razoavelmente Similar à dos mares em que surgiu a vida bilhões de anos atrás. No século XX o Fisiologista americano Cannon complementou o conceito de Bernard com outras experiências, também memoráveis, e criou o termo Homeostasia para descrever os processos nela implicados. Tais processos denominam-se funções vegetativas porém geralmente são conhecidas como autonômicas, porque se pensa que elas são geradas apenas pelos sistemas simpático e parassimpático, que em conjunto recebem o nome errôneo de Sistema nervoso autônomo. O nome funções autonômicas é duplamente incorreto, primeiro porque elas não são autônomas, segundo porque compreendem outros fenômenos além dos gerados pelos sistemas simpático e parassimpático, tais como a respiração, as funções neuroendócrinas e as neuroimunológicas. O Sistema nervoso, a despeito de sua incomparável complexidade, gera apenas duas modalidades de funções: a Homeostasia e os Comportamentos; os Comportamentos exprimem-se por Intermédio de componentes motores (que em geral, mas nem sempre, caracterizam dado comportamento) e de componentes vegetativos. Estes não são fenômenos homeostáticos, são ajustes vegetativos (hemodinâmicos, ventilatórios, metabólicos) que fazem Parte dos Comportamentos e destinam-se a fornecer oxigênio, glicose, íons e outras substâncias intensamente utilizadas pelo Sistema nervoso durante qualquer Função que ele esteja originando ou regulando. Cada Função vegetativa é regulada por mecanismos específicos porém processos encefálicos complicadíssimos promovem sua articulação, de modo que o resultado final seja sempre uma integração que represente a melhor combinação de efeitos para o organismo, em dado momento e em cada Circunstância. Os seguintes exemplos ilustrarão essa Articulação. 1. A Temperatura ambiente, detectada por termoceptores cutâneos, e a do sangue, detectada por termoceptores situados em vários Vasos sangüíneos e em diversos locais do Sistema nervoso central, principalmente na Área preóptica e no hipotálamo, são identificadas com muita precisão pelo Sistema termostático situado nessas regiões centrais, a partir das informações geradas pelos termoceptores cutâneos, vasculares e centrais. A regulação da Temperatura corpórea é homeostática e efetuada de maneira muito precisa pelo centro termostático. Se há redução ou Aumento da Temperatura corpórea a sobrevivência do organismo pode ser prejudicada, visto que as Enzimas que participam das principais reações químicas dos animais homeotermos (os mamíferos e as aves, nos quais a Temperatura do Sangue Central é mantida dentro de uma faixa que não varia mais que 1 oC ao longo do dia) só funcionam bem dentro de uma estreita faixa de Temperatura; se esta atinge um valor muito baixo, cerca de 26 oC, ou muito alto, próximo de 45 oC, a ação das Enzimas torna-se muito defeituosa e o organismo corre Risco de Morte se não se restabelece a Temperatura Normal. Se a Temperatura Central diminui, o centro termostático desencadeia fenômenos que tendem a produzir mais Calor e a reduzir a dissipação térmica pela Pele. Quando a Temperatura Central aumenta, o centro termostático gera mecanismos que tendem a produzir menos Calor e a aumentar a dissipação térmica cutânea. Entre os processos ativados pela diminuição da Temperatura corpórea destacam-se a vasoconstrição cutânea (que diminui a perda de Calor pela pele), a vasodilatação muscular e do interior do abdômen (que absorver o Sangue desviado da Pele e com isso impede que a Pressão arterial se eleve) e o Aumento das reações termogênicas nos tecidos. Se a Temperatura externa se mantém baixa durante horas, a Glândula Hipófise aumenta a Secreção de Hormônio tireotrófico, o qual ativa a Tireóide a produzir seus hormônios, intensificando o Metabolismo celular e conseqüentemente produzindo prolongadamente mais Calor. Os processos ativados pelo Aumento da Temperatura corpórea são opostos a esses que acabamos de descrever. Esses processos são inconscientes; entretanto, se o decréscimo ou o acréscimo da Temperatura Ambiente são intensos e prolongados, esses mecanismos são insuficientes para manter a Temperatura corpórea; nesse caso, o Sistema nervoso resolve o problema produzindo sensação de frio ou de Calor e esta passa a gerar algum Comportamento destinado a complementar os mecanismos homeostáticos: ocorrem calafrios (para as contrações musculares gerarem mais calor), busca-se um local mais quente, veste-se uma roupa grossa, liga-se um aquecedor elétrico etc. Por conseguinte, um Comportamento (fenômeno muito mais Complexo do que os ajustes vegetativos inconscientes) pode ser mobilizado para realizar as correções que os fenômenos vegetativos apenas não conseguem realizar, contribuindo relevantemente para a Homeostase. 2. Quando comemos um Alimento muito salgado a Pressão osmótica do plasma eleva-se e isso ativa sensores situados no Sistema nervoso Central e em algumas regiões periféricas, os quais geram mecanismos homeostáticos inconscientes que têm por finalidade eliminar mais Sódio pela Urina e a diminuir o volume urinário; a redução do volume urinado mantém mais Água no Sangue e dilui o excesso de Sódio nele presente. Geralmente esses mecanismos são suficientes para equilibrar a Pressão osmótica dos líqüidos do organismo; contudo, se a hiperosmolaridade plasmática aumenta muito, por haver sido muito grande a quantidade de sal ingerida, tais mecanismos são insuficientes para restabelecer o equilíbrio osmótico e então o Sistema nervoso gera sêde, a qual desencadeia os Comportamentos de busca e ingestão de Água. Muitos são os parâmetros que devem ser mantidos dentro de uma faixa relativamente estreita, a fim de se manter a Homeostasia: a Pressão arterial, a Pressão do Oxigênio e do CO2 no sangue, o pH dos líqüidos do organismo, a concentração de Glicose e dos vários hormônios no Sangue etc. Para manter cada um estável existem numerosos mecanismos ativados pelo Sistema nervoso; para mantê-los todos conjugados e gerar a Homeostasia plena, processos neurais muito mais complicados são necessários. (César Timo-Iaria) Ver: Comportamentos, Homeostase