Acertar, coragem de
É fascinante a conquista científica e tecnológica deste fim de milênio. A cada dia aparece uma novidade surpreendente. O inimaginável torna-se realidade a cada momento. Esse Fato varia nas diversas áreas do saber, embora, com maior ou menor intensidade, se verifique em todas elas. Com a medicina ocorre o mesmo, Mutatis mutandis: cada especialidade progride diferentemente, seja pela descoberta de fatos ou pela formulação de outras interpretações dos fenômenos. Como resultado do progresso, o homem, na prática, se beneficia do maior número de medicamentos, mais específicos, puros e com menor número de reações adversas; das possibilidades inesgotáveis de diagnósticos bioquímicos e imunológicos, com maior sensibilidade, precisão, Especificidade e, rapidez, bem como de gerações avançadas de aparelhos que conseguem visualizar estruturas ocultas, analisando, em cores, a Circulação do Sangue nas artérias e nas veias de cada órgão, explorando, assim, sua Forma e a Função. Ao Arsenal médico, uma invenção é integrada a cada dia. A conquista traz aperfeiçoamento, embora cada geração de aparelhos torne obsoleta a Anterior. Como a tecnologia está progredindo graças ao computador, a novidade, agora, é o próprio Aparelho ter a possibilidade de incorporar imediatamente a descoberta de ontem, pelo simples acoplamento de um módulo, trazendo, para o doente, a modernidade em tempo real. A vertiginosa aceleração desse Progresso exige do médico reformulação do raciocínio clássico. Agora, o Diagnóstico deve ser feito com dados em permanente evolução. Assim, se a Anatomia deixa de ser, como diz Harvey, o estudo da estrutura estática para tornar-se o estudo da estrutura que se animou, mais do que a Anatomia dinâmica, que estuda a imagem Plástica da função, passa ela a ser a própria fisiologia. Tal Concepção foi ampliada com Sigerist, referindo-se à Patologia como sendo um prolongamento da fisiologia. A revolução das idéias diante desses novos conceitos obriga a profundas ponderações. Retroagindo ao início do século, Leriche define Saúde como sendo a “inconsciência do corpo” e, doença, como sua “consciência”. Assim, emerge a sensação dos limites da Saúde, bem como o das ameaças e o dos obstáculos a ela. A Saúde e a Doença são estados de um jogo em que o Normal se contrapõe ao patológico. Aquele aparece como funcional ou fisiológico e suas Alterações revelam a Doença que, em tais condições, assume as características de um Desvio do fisiológico. Este é o significado da doença, ao menos na perspectiva do paciente, já que o silêncio dos Órgãos não envolve necessariamente a Ausência de doenças. Há doenças que permanecem por longo Período sem sintomas e sem sinais, o que torna muito difícil o Diagnóstico precoce. Quando este é feito, a conduta é, ainda, muito mais difícil, pois, em tais circunstâncias, não se pode oferecer ao Indivíduo a alternativa de ficar doente da Cura uma vez que a Doença iatrogênica é pior do que a expectativa de sintomas da Doença silenciosa. Há de se meditar sobre a conveniência da Espera vigilante e, assim, ter a coragem de acertar.