Mínimo do saber em medicina
Antes, contudo, e ainda em conexão com o tema que estou examinando, parece oportuno discutir o que se poderia designar como o Mínimo do saber em medicina, que deveria integrar necessariamente o cabedal de conhecimentos do médico bem formado, especialmente tendo em vista a massa cada vez maior de informações característica do mundo moderno e os problemas que gera para o profissional, que se deve manter permanentemente atualizado. Estima-se que o facultativo que desejar inteirar-se de tudo o que foi publicado em medicina no último mês, na literatura internacional, despenda para tanto setenta e cinco anos de leitura. Esse dado evidencia a magnitude do problema e revela o quanto de inútil e supérfluo deve-se ler para selecionar o artigo procurado, ainda que utilizando o que há de mais moderno em recursos tecnológicos para a pesquisa bibliográfica. As especialidades, como estão surgindo, resultam de uma divisão drástica do conhecimento, de maneira a viabilizar o domínio de uma Parte da medicina por um homem só. Está havendo uma tendência cada vez maior para a superespecialização, pelo aparecimento de novas especialidades com conteúdos programáticos ainda mais restritos. Para estabelecer-se a quantidade do saber do especialista, a questão não parece apresentar grandes dificuldades; entretanto, as coisas se complicam quando se pretende definir o que deve saber o médico, que hoje está sendo chamado indevidamente de generalista. Acredito que a questão possa ser equacionada tendo em vista: 1- o que ele precisa saber; 2- o que ele pode não saber e; 3- o que ele não pode deixar de saber das outras especialidades. Os dois primeiros itens, embora exigindo muito Trabalho e atenção, não encerram dificuldades maiores. Entretanto, o terceiro é o mais difícil, pois se situa na fronteira entre as especialidades. Tal zona de conhecimento é obscura, mal definida e admite áreas em que o Diagnóstico diferencial exige conhecimento do território vizinho. É exatamente nessa faixa cinzenta que as incursões, tanto de um lado como de outro, podem ser perigosas, pela maior possibilidade de errar e, assim, causar doenças iatrogênicas. Quero crer mesmo que a somatória de todos os conhecimentos exigidos para dominar tal zona representa a verdadeira cultura do médico. Eles darão o descortínio necessário para a adequada hierarquia dos valores dos dados obtidos para o Diagnóstico. Em que pese todo o esforço feito para caracterizar bem cada uma das especialidades, sempre são muito valorizados os dois primeiros itens. Acredito que cada uma das cinqüenta e cinco Sociedades Médicas Especializadas, oficialmente credenciadas pela Associação Médica Brasileira para outorgar o Título de Especialista dentro daquela Área do saber, deveria empenhar-se agora no terceiro item, definindo o que os outros especialistas não podem ignorar de sua Especialidade. Assim, o elenco de itens relacionados constituiria, na verdade, o conhecimento Mínimo que deve ser exigido para todo o médico exercer a sua profissão.