Raiva: mudanças entre as edições

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Edição atual tal como às 17h27min de 11 de setembro de 2011

(ref. Guia de Vigilância Epidemiológica) Antropozoonose transmitida ao homem pela Inoculação do vírus rábico, contido na saliva do animal infectado, principalmente pela Mordedura. Apresenta uma letalidade de 100% e alto custo na Assistência preventiva às pessoas expostas ao Risco de adoecer e morrer. Apesar da Raiva ser conhecida desde a antigüidade, continua sendo um problema de Saúde pública dos países em desenvolvimento, principalmente a transmitida por cães e gatos, em áreas urbanas, mantendo-se a cadeia de Transmissão animal doméstico/homem. O vírus rábico é neurotrópico e sua ação ao nível do Sistema Nervoso Central, Causa um quadro clínico característico de uma Encefalomielite aguda, decorrente da sua multiplicação entre os neurônios.
Agente Etiológico: o vírus rábico pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae; possui aspecto de um projétil e seu Genoma é constituído por RNA. Apresenta dois antígenos principais, um de superfície, constituído por uma glicoproteína, responsável pela formação de anticorpos neutralizantes, e um Interno que é constituído por uma nucleoproteína, que é grupo específico.
Reservatório: no Ciclo urbano, a principal Fonte de Infecção é o cão e o gato. No Brasil, o morcego é o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre. Outros reservatórios silvestres são: raposa, coiote, chacal, gato do mato, jaritataca, guaxinim, mangusto e macacos.
Modo de Transmissão: a Transmissão da Raiva se dá pela Inoculação do vírus contido na saliva do animal infectado, principalmente pela Mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas. Existe o relato de dois casos de Transmissão inter-humana na literatura, que ocorreram através de transplante de Córnea. A via respiratória também é aventada, mas com possibilidade remota.
Período de Incubação: é extremamente variável, desde dias até um ano, com uma média de 45 dias no homem e de 10 dias a 2 meses no cão. Em crianças, existe uma tendência para um Período de Incubação menor que no Indivíduo Adulto. O Período de Incubação está intrinsicamente ligado a: localização e gravidade da mordedura, arranhadura ou lambedura de animais infectados; proximidade de troncos nervosos; e quantidade de partículas virais inoculadas.
Período de Transmissibilidade: nos cães e gatos, a Eliminação de vírus pela saliva se dá de 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo durante toda evolução da Doença. A Morte do animal ocorre, em média, entre 5 a 7 dias após a apresentação dos sintomas. Em relação aos animais silvestres, há poucos estudos sobre o Período de transmissão, sabendo-se que varia de espécie para espécie. Por exemplo, especificamente os quirópteros podem albergar o vírus por longo período, sem Sintomatologia aparente.
Suscetibilidade e Imunidade: todos os animais de Sangue quente são suscetíveis à Infecção pelo vírus rábico. Não se tem relato de casos de Imunidade natural no homem. A Imunidade é conferida através de vacinação pré e pós exposição.
Distribuição, Morbidade, Mortalidade e Letalidade: a Raiva está presente em todos os continentes, com exceção da Oceânia. Alguns países das Américas (Uruguai, Barbados, Jamaica e Ilhas do Caribe), da Europa (Portugal, Espanha, Irlanda, Grã-Bretanha, Países Baixos e Bulgária) e da Ásia (Japão) encontram-se livres da Infecção no seu Ciclo Urbano. Entretanto, alguns países da Europa (França, Inglaterra) e da América do Norte (USA e Canadá) enfrentam ainda problemas quanto ao Ciclo Silvestre da Doença. A Raiva apresenta dois ciclos básicos de transmissão, o Urbano que ocorre principalmente entre cães e gatos e é de grande importância nos países do terceiro mundo, e o Silvestre, que ocorre principalmente entre morcegos, macacos, raposas e outros. Na zona rural, esporadicamente, afeta animais de criação como bovinos, eqüinos e outros. A distribuição da Raiva não é obrigatoriamente uniforme, podendo existir áreas livres, e outras de baixa ou alta endemicidade, apresentando, em alguns momentos, formas epizoóticas. No Brasil, a Raiva é endêmica, em grau diferenciado de acordo com a região geopolítica. A região Nordeste responde com 61,50% dos casos humanos registrados de 1986 a 1996, seguida da região Norte com 18,38%, Sudeste com 11,21%, Centro-Oeste 8,71% e Sul 0,20%. Desde 1981, não há registro de casos nos estados do Sul, com exceção de 1 Caso do Paraná cuja Fonte de Infecção foi um morcego hematófago. Neste mesmo período, cães e gatos foram responsáveis por transmitir 77% dos casos humanos de Raiva, os morcegos por 11%, outros animais (raposas, sagüis, gato selvagem, bovinos, eqüinos, caititus, gambás, suínos e caprinos), 5%. Casos, cuja Fonte de Infecção é desconhecida, representam 7%. O coeficiente de morbi/mortalidade de Raiva humana nos últimos 5 anos vem diminuindo de Forma gradativa, sendo de 0,05/100.000 habitantes no ano de 1990 e chega aos dias de hoje a 0,01/100.000 habitantes. O coeficiente de letalidade da Raiva é de 100%.
Aspectos Clínicos da Raiva Humana - os Pródromos iniciais que duram de 2 a 4 dias são inespecíficos, com o Paciente apresentando mal-estar geral, pequeno Aumento de Temperatura corpórea, anorexia, cefaléia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade e inquietude, sensação de Angústia. Podem ocorrer Hiperestesia e Parestesia nos trajetos de nervos periféricos próximos ao local da mordedura, e Alterações de Comportamento. A Infecção progride, surgindo manifestações de Ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários generalizados e/ou Convulsões. Ocorrem espasmos dos músculos da laringe, Faringe e língua, quando o Paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando Sialorréia intensa. Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a Alterações cárdio-respiratórias, retenção urinária, Obstipação intestinal. O Paciente se mantém consciente, com Período de alucinações até a instalação de quadro comatoso e evolução para óbito. É ainda observada a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia, Fotofobia. O Período de evolução do quadro clínico, após instalados os sinais e sintomas até o óbito, varia de 5 a 7 dias.
Diagnóstico Diferencial: não existem dificuldades para estabelecer o Diagnóstico diferencial, quando o quadro clínico vem acompanhado de sinais e sintomas característicos da raiva, antecedidas por mordedura, arranhadura ou lambedura de Mucosa provocada por animal raivoso, morcego ou outros animais silvestres.
A literatura apresenta alguns agravos que podem ser confundidos com a Raiva humana: tétano; pasteureloses por Mordedura de gato e de cão; Infecção por vírus B (Herpesvírus simiae) por Mordedura de macaco; Botulismo; Febre por mordida de rato (SODÓKU); Febre por arranhadura de gato (linforreticulose benigna de inoculação); quadros psiquiátricos; outras encefalites virais, especialmente as causadas por outros rabdovírus, a exemplo do Mokola; Tularemia. Cabe salientar a ocorrência de outras encefalites por Arboviroses existentes no meio brasileiro, principalmente na região Amazônica, já relatadas e descritas com um quadro de Encefalite compatível com o da Raiva. É importante ressaltar que a Anamnese do Paciente deve ser feita junto ao acompanhante, anotando a evolução, com destaque para sintomas prodrômicos, Antecedentes epidemiológicos e vacinais. Ao exame, considerar a suspeita clínica, o fácies, a hiperacusia, a hiperosmia, a fotofobia, a aerofobia, a Hidrofobia e as Alterações de Comportamento.
Medidas de Controle da Raiva Humana - A profilaxia da Raiva humana é feita mediante o uso de vacinas e soro, quando os indivíduos são expostos ao vírus rábico através de mordedura, lambedura de Mucosa ou arranhadura, provocada por animais transmissores da Raiva.
Bases Gerais do Tratamento - Sobre a Vacinação: a vacinação não tem contra-indicação (gravidez, Doença intercorrente ou outros tratamentos). Recomenda-se a interrupção de tratamentos com corticóides e imunossupressores. A profilaxia contra a Raiva deve ser iniciada o mais rápido possível. Havendo interrupção, completar as doses prescritas e não iniciar nova série. Recomenda-se que o Paciente evite esforços Físicos excessivos e bebidas alcoólicas, durante e logo após o Tratamento. A História vacinal do animal agressor não constitui elemento suficiente para a dispensa da indicação do Tratamento anti-rábico humano. Se o resultado da Imunofluorescência direta do animal for negativo, suspender o Tratamento.
Sobre o Ferimento: lavar imediatamente o Ferimento com Água corrente e sabão. A seguir, se necessário, desinfetá-lo com Álcool iodado a 1%. A Mucosa ocular deve ser lavada com Solução fisiológica ou Água corrente; o Contato indireto é aquele que ocorre através de objetos contaminados com secreções de animais suspeitos. Nesses casos, indica-se apenas lavar bem o local com Água corrente e sabão; em Caso de lambedura em Pele íntegra, por animal suspeito, recomenda-se a Lavagem com Água e sabão; não se recomenda a Sutura do(s) ferimento(s). Quando for necessário, aproximar as bordas com pontos isolados. Havendo sutura, é imperiosa a infiltração com Soro; proceder à profilaxia do tétano (caso não seja imunizado ou com esquema vacinal incompleto) e uso de antibióticos nos casos indicados, após a Avaliação médica; havendo Contaminação de mucosa, seguir o Tratamento indicado para lambedura em Mucosa.
Sobre o Animal: O Período de Observação de 10 (dez) dias é restrito a cães e gatos. Considera-se suspeito todo animal que apresenta Mudança de Comportamento e/ou sinais e sintomas compatíveis com a Raiva. Cuidados devem ser observados no manuseio do animal, para evitar acidentes. Sempre que possível, o animal agressor deve ser observado. Para o Caso de, durante a observação, o animal desenvolver Sintomatologia compatível com raiva, ele deve ser sacrificado e seu Encéfalo enviado para laboratório de referência. Agressão por outros animais domésticos (bovinos, ovinos, caprinos, eqüídeos, e suínos) é passível de Tratamento profilático, uma vez avaliada as condições da exposição. É indicado Tratamento sistemático para os casos de Agressão por animais silvestres, mesmo quando domiciliados. Não é indicado Tratamento para Agressão pelos seguintes roedores e lagomorfos: ratazana de esgoto (Rattus norvegicus); rato de telhado (Rattus rattus); camundongo (Mus musculus); cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus); hamster (Mesocricetus auratus); e coelho (oryetolagus cuniculos). Nas agressões por morcegos, deve se proceder a soro-vacinação, independente do tempo decorrido. Em Caso de Tratamento Anterior completo, só é indicado o reforço.
Notificação compulsória (Fundação Nacional de Saúde).
___ animal, no cão: os animais mais jovens são mais suscetíveis à infecção, cujo Período de Incubação varia de 10 dias a dois meses, em média. A fase prodrômica dura, aproximadamente, 3 dias. O animal demostra Alterações sutís de comportamento, anorexia, esconde-se, parece desatento e por vezes, nem atende ao próprio dono. Ocorre nessa fase um ligeiro Aumento de temperatura, Dilatação das pupilas e reflexos corneanos lentos. Há duas apresentações de Raiva no cão: furiosa - angústia, inquietude, excitação, tendência a Agressão (morde objetos, outros animais e o próprio dono), Alterações do latido (latido rouco), Dificuldade de deglutição, sialorréia, e a tendência a fugir de casa, excitação das vias geniturinárias, irritação no local da agressão, incoordenação motora, Crise convulsiva, paralisia, Coma e Morte. Muda ou Paralítica - fase de excitação ausente, inaparente ou curta, busca de lugares escondidos ao abrigo da luz (fotofobia), sintomas predominantemente paralíticos, que se iniciam pelos músculos da Cabeça e pescoço, Paralisia dos membros posteriores, estendendo-se por todo Corpo do animal, Dificuldade de deglutição, sialorréia, Coma e Morte. Deve se considerar que os sinais e sintomas das diferentes apresentações não seguem necessariamente seqüências obrigatórias ou apresentam-se em sua totalidade. O curso da Doença dura em media 10 dias e o animal pode estar eliminando vírus na saliva desde o 5º dia antes de apresentar os primeiros sintomas. Em conseqüência das características da doença, o animal raivoso é facilmente atropelado em vias publicas, o que exige muito cuidado ao socorrer-se um animal.
Diagnóstico Diferencial da Raiva Canina: cinomose; encefalites não especificadas; Infestação por helmintos (migração de larvas para o cérebro); Intoxicação por estricnina, Atropina; Doença de Aujeszky; Eclâmpsia; ingestão de corpos estranhos.
Raiva no Gato: na grande maioria dos casos, apresenta-se sob a Forma furiosa, com sintomologia Similar a do cão. A Mudança de comportamento, muitas vezes, não é observada, uma vez que os gatos são animais semi-domésticos. Em conseqüência das próprias característica dos felinos, o primeiro Ataque é feito com as garras e depois com a mordida. Devido ao Hábito dos gatos se lamberem constantemente, as arranhaduras são sempre graves.
Diagnóstico Diferencial da Raiva Felina: pode-se fazer o Diagnóstico diferencial com encefalites, Intoxicação e Traumatismo crânio-encefálico.
Raiva em Morcego: o Comportamento da Doença do morcego é pouco conhecido. O mais importante a considerar é o Fato de que o morcego pode albergar o vírus rábico em sua saliva e ser Infectante antes de adoecer, por períodos maiores que de outras espécies. Algumas apresentações da Doença em morcegos foram assim registradas: Raiva furiosa típica, com Paralisia e Morte; Raiva furiosa e Morte sem Paralisia; e Raiva paralítica típica e Morte.
(ref. CID10) Necessidade de imunização contra a raiva, (Z24.2)
Raiva, (A82)
Raiva não especificada, (A82.9)
Raiva silvestre, (A82.0)
Raiva urbana, (A82.1)