Conviver

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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A mente é muito complexa, motivo pelo qual o Comportamento humano é dificilmente compreendido. Os sentimentos e as reações individuais variam conforme o temperamento, o autocontrole e a educação, além de muitos outros fatores. Certas pessoas, em determinadas circunstâncias, têm manifestações imprevisíveis. Muitas vezes, o silêncio aparenta tranqüilidade, mas, na verdade, está mascarando profundas emoções, equivalentes a um vulcão em erupção. A estabilidade emocional é predicado básico para o bem-viver. Não pode ser esquecido que fatos corriqueiros prejudicam o relacionamento entre pessoas, estas, ofuscadas pela emoção, chegam a não se dar conta de estar discutindo por nada. É mister saber dar a cada Fato sua verdadeira dimensão. O que parece fácil, na prática, é muito difícil. As pessoas vêem o mesmo Fato por diferentes prismas e conseqüentemente interpretam a sua moda e reagem de maneira a parecer estranho aos demais. Impulsos semelhantes produzem respostas diferentes. O que pode gerar afeto, também pode causar desafeto. O Comportamento multiforme é peculiar à natureza humana e não é raro a mesma Pessoa ter respostas contraditórias, evidenciando até certa falta de lógica. Respostas paradoxais, inesperadas, levam os circunstantes à perplexidades, admitindo equívoco na interpretação da ocorrência desencadeadora. A Dificuldade pessoal de controlar as reações leva a Comportamento incoerente. Neste ponto está o fulcro da questão, no que concerne à incompreensão do Procedimento alheio e, conseqüentemente, torna-se Fonte geradora dos desentendimentos entre as pessoas. Conviver é difícil; exige Tolerância recíproca e constante desprendimento individual. O cotidiano desgasta a relação pelo Fato de, a todo instante, estar pondo à prova os predicados referidos. A Harmonia só é conquistada graças a grande Afinidade e a muita renúncia. É preciso relevar o menor para preservar o maior. Entretanto, somente o constante exercício de elevação espiritual ensina entender o ponto de vista do próximo; desde que haja, no íntimo, algo a ser permanentemente cultivado. Os motivos que aproximam as pessoas são múltiplos e o relacionamento melhor ou pior vai depender da natureza e do grau de Interesse entre as partes no vínculo associativo. O êxito do bom relacionamento entre as pessoas para prevenir ou superar conflitos, depende, além de outros fatores, também, da Consciência de haver a vantagem da Harmonia. Seria conveniente, como profilaxia do desentendimento, fazer um juízo de valores sobre o que se está discutindo para confrontar com o desgaste emocional ou mesmo material que o Conflito está gerando. Para entender as contradições, lembro Renato Locchi ao ministrar as aulas que tratava dos princípios gerais da anatomia, falava dos septos e dizia que estas estruturas, ao mesmo tempo que separavam as cavidades, também as uniam, e fazia analogia com o ódio que, muito mais do que separar as pessoas, as une, porém ressaltava que apenas o Amor une! Será que, mesmo este, em certas condições em que conflitos íntimos perturbam a compreensão dos fatos, também não se comporta da mesma maneira? Algumas experiências de natureza bem diversa refletem a grande Variação dos sentimentos. Sua lembrança, nesse texto, contribui para esse raciocínio. Integrei o Grupo de Executivos da Universidade de São Paulo que fazia “atividade física” com o Prof. Antônio Boaventura da Silva e sempre sentia, no decorrer de cada aula, que a gravidade naquele salão aumentava progressivamente. Embora os Físicos desenvolvessem elocubrações sobre as Alterações gravitacionais nos “buracos negros”, nada foi comprovado mas todos testemunhavam o Fato. A relatividade do tempo é decantada; na adolescência, demorado; na juventude, rápido; na maturidade, imperceptível; e para o idoso passa em excesso de velocidade, sem respeitar qualquer lei de Controle. Aliás, vale transcrever algumas palavras de Henry Van Dyke referindo-se ao tempo: “muito lento para aqueles que esperam; muito rápido para aqueles que temem; muito longo para aqueles que choram; muito curto para aqueles que se rejubilam; mas, para aqueles que amam, o tempo é a eternidade”. Todo exercício de raciocínio sobre essa problemática ajuda a pensar de maneira diferente, para melhor entender os outros ou mesmo a si próprio, podendo assim desarmar os ânimos, aliviar as tensões, propiciar novas maneiras de encarar o mundo Interno e, quem sabe, propiciar caminhos conciliadores, entre os convivas e consigo mesmo em situações conflitivas. O emaranhado da questão pode ser avaliado pela Análise da repercussão de ocorrências comezinhas sobre os próprios amigos. Basta lembrar, por exemplo, que o êxito individual deveria, no mínimo, ser compartilhado pelos mais próximos e, no entanto, pode desencadear reações adversas. É tão comum tal incerteza de Comportamento que Mário Ramos classificou as respostas dos circunstantes diante das realizações pessoais numa gama progressiva de sentimentos que chamou de “escalada do ódio” na seguinte seqüência: 1- mágoa; 2- despeito; 3- ciúme; 4- inveja e 5- ódio e, a tal tipologia, acrescentou que, na eventualidade de atingir o nível dois, praticamente nada acontece, entretanto, se ultrapassá-lo, não se pode, sequer, prever as reações. O Comportamento humano nos reserva tantas surpresas que a maior certeza que podemos ter é a incerteza da sua resposta. Quem sabe, para prevenir tais dissabores, consegue-se construir uma barreira protetora e, assim, adquirir uma postura de prudência, no Sentido de se precaver contra as decepções decorrentes da falta de adequada compreensão dos intricados conflitos da mente. Talvez uma reflexão mais profunda sobre a maneira de pensar dos índios peruanos Quechuas permita desvendar as dificuldades em entender os conceitos que a mente constrói. Eles pensavam no futuro como algo que estivesse para trás e no passado como localizado na frente. Partiam do Princípio de que os eventos ocorridos podem ser lembrados, o que equivaleria a serem vistos pela mente. Sendo assim, eles devem estar diante dos olhos. Como não se pode ver o futuro, ele deve estar atrás de nossa vista. No fundo, o humano busca arduamente algo totalmente abstrato que é traduzido por uma só palavra: felicidade. Todas as leis da natureza, no íntimo de cada indivíduo, se submete a maior delas a da relatividade, seja no tempo ou no espaço, e que para sua adequada regulamentação aos sentimentos humanos, pode-se transcrever Ipsis literis as palavras do poeta santista Vicente de Carvalho: a felicidade está onde a pomos e nunca a pomos onde estamos. Sua permanente busca talvez seja a Fonte geradora de novos interesses. Em que pese todas as grandes dificuldades para se conviver, quem sabe, esteja nessa busca a grande Motivação do viver!